Saudoso percurso da 63 Trás os Montes



A camioneta nº 63 da Auto Viação do Tâmega está intimamente ligada à história de Pedome, pelo menos dos últimos 70 anos. No site da própria empresa pode-se ler o seguinte:

Quando em 19 de Maio de 1944 , o Sr. Teodoro de Freitas e o Sr. Alberto Augusto Antas, ambos já falecidos, subscreveram a escritura publica desta empresa no Cartório Notarial de Chaves, por certo que não imaginavam a importância que a mesma iria ter para a região. Consta nessa escritura que o Capital social era de 498.79 Euros, repartido em proporções iguais pelos fundadores. Iniciaram a actividade com um camião de carga, passando mais tarde á compra de um autocarro da marca Volvo, matricula SP-10-87, de 31 lugares, cujo o custo foi de 99.75 Euros, e destinado a fazer a carreira de serviço publico entre Chaves e Vinhais, constituindo assim a primeira concessão oficial. Como nota curiosa há a salientar que o sócio fundador Teodoro de Freitas, manteve-se á frente da empresa até ao ano de 1976. Foi o seu dinamismo e vontade férrea que catapultou a empresa para o lugar de destaque que a mesma já tinha quando por motivos de força maior cedeu a sua posição.

À parte algum lapso que haja quanto à moeda em causa, retém-se uma coisa relevante: A Auto Viação de Tâmega teve como origem, no que ao transporte de passageiros diz respeito, a carreira Chaves - Vinhais. Fiquei agora a saber que tal carreira era feita com um veículo Volvo. No meu tempo, tal era assegurado pela “fabulosa” Leyland nº 63. Aos comandos o Sr. Norberto, coadjuvado pelo Sr. Santarém, que mais tarde tomaria ele próprio os comandos em “Agente Único”.

Esta carreira, num percurso tão diverso, entre Chaves e Vinhais, está cheio de peripécias. Algumas delas, haverá aqui tempo para as contar, outras, se alguém as quiser partilhar, será um bom exercício, senão, ficarão para o esquecimento ou para a lembrança de quem as viveu.

Uma das coisas caricatas nesta carreira era o horário que parecia estar feito para não servir ninguém. Passava em Pedome às 8.20 horas da manhã, às 14.15 horas da tarde e às 20.15 horas da noite, isto no sentido Vinhais-Chaves, incompatível portanto com os horários escolares. Esta artimanha administrativa, no tempo em que os livros de reclamação não estavam à mão de semear, levava-nos a organizarmo-nos em caravanas de transporte colectivo privado, de modo a apanhar às 6 horas da madrugada, a camioneta na Bolideira, outra aberração de horário, que nos punha em Chaves às 7 horas da manhã, quando as escolas abriam às 8.30 horas. Hoje seria um método apelidado de tortura e justificação para todo o insucesso escolar, esperar mais de uma hora ao relento, no tempo das geadas e do impiedoso nevoeiro flaviense.
Continua…

Nota: A imagem não é da 63, não consegui uma foto da lendária camioneta, será provavelmente o chasso da 64, uma UTIC Leyland miserável que conseguiu juntar o fim de duas marcas.


Armando Sena

6 comentários :

  1. Boas recordações.
    Normalmente ia a pé até Cimo de Vila.
    Quando muito,no regresso,vinha na burra do Chereto e,lá tinha ele de vir a pé à próxima feira para levar a burra para casa.

    Um abraço,
    mário

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  2. Caro Armando,
    muito bom post. É destas "estórias" que se fará a história do nosso concelho.
    abs

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  3. Ouvi, ao longo dos anos, contar histórias mirabolantes, passadas nesse célebre autocarro (carreira).
    Não as vivi como tu, Armando, porque nos meus tempos de estudante, não vínhamos dormir a casa diariamente. Era, quase sempre, um Período, que permanecíamos fora de casa. Eu cortava essa regra porque o meu pai ia muitas vezes a Chaves e, quando o fazia, ao fim de semana, lá vinha eu no Prefect preto a subir, a muito custo, a Bolideira...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. A história faz o homem. Belo seu escrito. Obrigada pela visita.

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  6. Meu saudoso percurso é de um transporte que aqui no Brasil era denominado de "misto". Mais uma vez te agradeço a honrosa visita.

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