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A viagem de camioneta - Parte II


Para os que não tinham muita urgência em chegar a Chaves, havia uma carreira que pelas 9 horas da manhã chegava à cidade, nome pelo qual, carinhosamente se tratava Chaves.
Esta carreira, fazia o percurso Vinhais-Chaves, não tinha tão grande utilização por estudantes, mas era a única alternativa para quem quisesse viajar entre Rebordelo e pelo menos a Bolideira, com destino a Chaves.
Esta viagem era mítica. Mítica pela duração, pelo percurso e, essencialmente, pelos frequentadores. Como momento alto de tantos percursos que efetuei, recordo um, pela sua originalidade.
Num dos não raros dias de nevada pela região de Rio Livre, fizemo-nos à estrada nesta carreira, com cerca de meia hora de atraso. Isto era o menos e até bastante compreensível dado a camioneta vir de Vinhais. Na viagem seguíamos três passageiros, (clientes, como agora se chama), os quais fomos logo avisados que a camioneta circularia com a porta aberta. Estranhando a razão, foi-nos prontamente esclarecido que era por motivos de segurança. Estranha explicação que mais à frente se percebeu claramente a sua razão de ser. Nas curvas e contra-curvas a seguir à ponta da Pulga, a camioneta começa a patinar no gelo e a resvalar para a valeta. Os ocupantes perceberam que a “evasão” pela porta era o caminho mais seguro e precipitaram-se todos para o exterior. Felizmente a camioneta estabilizou e seguimos viagem. O resto da viagem correu normalmente, mesmo no alto da Bolideira ou na curva de Águas Frias sempre fustigada pela geada.
Peripécias de quem no interior norte teve o seu berço.
A carreira Chaves-Vinhais, normalmente efetuada pelo autocarro 63, merecia uma homenagem pública. Quem sabe um dia ainda dá um livro ?

Armando Sena
Foto cedida por: Graça Gomes

A viagem de camioneta Trás os Montes

Se coisas há que unem as terras de Rio Livre, para além da EN 103, são as camionetas da Auto Viação do Tâmega.
Desde os idos tempos em que este serviço interrompia os jogos de futebol que, à falta de melhor espaço se realizavam na estrada, até aos mais recentes, estes icónicos donos do asfalto, marcam de forma decisiva as terras e as gentes de Rio Livre.
A forma prática, nem sempre versátil e relativamente económica do serviço prestado pelas carreiras Vinhais-Chaves; Travancas-Chaves e Roriz-Chaves, permitiam que as pessoas conseguissem chegar ao centro urbano, sendo que, sem este serviço não teriam alternativa.
De madrugada começava a debandada de estudantes das aldeias mais distantes com pontos de recolha relevantes como era o caso da Bolideira. A carreira Travancas-Chaves, recolhia as crianças pelas seis da manhã e despejava-as nas ruas e cafés de Chaves às sete horas. Depois, era recorrer à imaginação e espírito de sobrevivência para matar o tempo até à abertura da escola (oito e meia), por vezes envolvidos em denso nevoeiro e temperaturas negativas.
O regresso era sempre mais simples, generoso e apetecível. Pelas 18.30 horas, começava a romaria para os pontos de recolha: A Garagem, a Shell e a Polícia. Engraçado que estes termos, pelo menos os dois últimos, não têm já nenhuma ligação ao seu estado atual.
Havendo uma ligação direta a Faiões e às Travancas, cabia ao serviço de Vinhais reunir todos os que se deslocavam ao longo da EN 103 (Assureiras, Casa dos Barros, Águas Frias, Casas de Monforte, Bolideira, Tronco, Pedome e por aí adiante até Vinhais). Este serviço foi efetuado durante décadas por uma dupla de respeito: Norberto, motorista e Santarém, cobrador.
Muitas histórias haveria para contar, especialmente nas viagens de quarta-feira ao fim do dia, o dia da mítica feira semanal de Chaves, mas já não há espaço neste post, fica para a próxima.

Armando Sena

Colheita de 2013 Trás os Montes




O vinho tem destas coisas, alegra-nos a alma e cansa-nos o corpo, mas a recompensa vale todo o esforço, quando finalmente se enchem as pipas com a canseira do ano.
Apontando o densímetro para um teor de açúcar a rondar a marca 8, estava na altura de encubar. Talvez mais um dia de lagar não lhe fizesse mal, mas teve que ser.
Dir-se-ia que se fechou o ciclo, mas tal não é verdade. Na realidade o ciclo do vinho não dura um ano, havendo sobreposição de  atividades de uma colheita com a posterior.
A deste ano já está nas pipas, mas o trabalho continua. Depois de fazer a aguardente do bagaço, serão feitas as análises, lá para fevereiro, ao que se seguirá a trasfega e, correndo bem, terminará então aí a época.
Tchim! Saúde, viva a colheita de 2013, já é uma certeza.

Armando Sena

Vindima Trás os Montes




O São Pedro milagreiro, teve o dom de transformar alguma água em vinho. Quando já nada se esperava desta colheita, depois de forte trovoada e prolongada seca, eis que vêm uns dias de chuva, fazer o milagre da multiplicação ou, neste caso, da adição.
E assim, contrariamente ao que se esperava, a colheita foi abundante.
Não há nada mais generoso, apesar de inesperado, como a natureza: Sempre transforma em Certezas as colheitas mais Incertas.

Armando Sena

Segada Trás os Montes







E, como previsto, a segada lá se fez. Com o mesmo calor intenso de sempre, mas com muito menos preparação do que outrora.
Às foices desabituadas de tais lides, por anos de ausência de contacto com a palha seca, juntava-se o amadorismo e falta de prática continuada de segadores e atador.
Mas, no fim, fica o consolo de um bom e saudável momento passado nos velhos hábitos e excelentes costumes de Pedome.

Armando Sena

A fraga e o moinho Trás os Montes





Este é o quarto moinho de Pedome, o que está localizado mais a jusante do ribeiro de Pedome, também conhecido por rio Calvo.
A estrutura do moinho está ainda bem conservada e a sua localização é magnífica, entre as Antas e o Sabiel.
Do lado nascente, tem a protege-lo uma fraga de dimensões consideráveis. Esta fraga tem uma história curiosíssima, ocorrida na passagem de ano de 1997 para 1998.
A esta não se aplicaria o provérbio “Do responsado come o lobo”.

Armando Sena

Moinhos de Pedome 1, Trás os Montes





Se o moinho do primeiro post é o mais bem preservado de todos, este é sem dúvida o mais emblemático.
Situa-se em Lamadeiras, no limite dos concelhos de Valpaços e de Chaves. Foi ao longo da vida, certamente, testemunha de muitas aventuras. Por se situar num paraíso, tudo lhe era permitido.
São célebres algumas das histórias que se contavam sobre os moleiros, muitas delas transformadas em lendas. Não faltava quem garantisse a pés juntos que saíam as bruxas no cruzamento da Ponte Velha, em Lamadeiras. Nunca ninguém as viu mas toda a gente tinha a certeza de existirem e fazerem malvadezas próprias de bruxas, incluindo raptos e ataques pessoais. Outros, talvez menos dados a coisas do além, caracterizavam esses eventos, como doenças do foro psíquico de algum dos intervenientes. Como sempre na vida, todos os problemas podem ter, pelo menos, duas caracterizações.
Quem sabe se por causa disso ou por outra qualquer das vicissitudes em que a vida é pródiga, o principal alvo dos ataques de bruxaria, nunca casou, apesar de se lhe reconhecer seis filhos, todos e só, da mesma mulher.
Não tenho a certeza em que década terá terminado esta atividade em Pedome, posso no entanto confirmar que neste mesmo ribeiro, mais a montante, um pouco acima da ponte da Pulga, funcionou um moinho até à década de oitenta do passado século.
Talvez um empreendedor, nesta vaga dos novos povoadores possa pôr um destes moinhos de novo a funcionar. Pelo menos que algum deles venha a ser recuperado, para turismo rural ou qualquer outra atividade. Por exemplo: Motel Lamadeiras.
Ficará assim preservada a memória coletiva, ela própria já recheada de histórias, algumas verdadeiras lendas e, todas elas, partes integrantes da História.
Lamadeiras não é um refúgio, é um Memorial.

Armando Sena

Moinhos de Pedome Trás os Montes







Embora não me lembre de muita atividade, já não na minha geração, Pedome foi sempre uma terra de moinhos e moleiros. Dadas as boas condições para o seu funcionamento, aproveitando os declives favoráveis do ribeiro, foram-se construindo nas margens deste, vários moinhos. Atualmente, embora em ruínas, ainda se conservam quatro.
Existem algumas histórias desses moleiros, dignas de figurarem como lendas na lembrança coletiva de Pedome.
Aqui deixo um dos moinhos que, apesar de tudo, continua a ser o mais bem preservado. Brevemente haverá outro post sobre este assunto.

Armando Sena

O toque das Trindades Trás os Montes


Não tenho a certeza se ainda se tocam as Trindades em Pedome. Certo é que por décadas, senão séculos, eram uma referência, o relógio de ponto dos que não tinham relógio, marcava a hora de recolher.
Para os mais novos, principalmente nos dias longos de verão, significava interromper uma aventura, uma pausa na conquista de novos mundos. Mas era respeitada, estava entranhada em cada um. Senão…

Armando Sena


O forno Trás os Montes



Em tempos de janeiro que não é geadeiro, que a chuva persiste em não seguir o ditado, augurando um mau ano agrícola, só apetece mesmo meter lenha ao forno.
Vamos nisso.

Armando Sena

Serviço de Urgências Trás os Montes


Longe vão os tempos em que uma apendicite, caso de faltasse o dinheiro para o táxi, tinha que esperar pela carreira que transportasse o doente para o hospital de Chaves, a mais de vinte quilómetros de distância, a menos que houvesse uma alma caridosa que desse boleia.
Hoje, com muita frequência, talvez demasiada, vê-se e ouve-se passar a ambulância do INEM. Um excelente serviço, que, tal como o hospital, esperemos que se mantenha.

Armando Sena

Vindima 2012 Trás os Montes



Ficou suspensa a meio, a vindima. Com as uvas tintas ainda por vindimar, sujeitas às arbitrariedades de São Pedro e outras ainda mais imponderáveis, com a branco já a escachoar na adega mas, sentindo-se órfão do irmão mais nobre, o Tinto!
Mas, correu tudo de feição, o tempo ajudou, as uvas que ficaram maduras já tarde, aproveitaram este verão já fora de época e, aliada à quantidade, parece abundar também a qualidade.
Mõe-se o bago, brota o suco, a lagarada supre à espera que o mosto queime o açúcar num ferver brando.
Depois, será tempo de encubar e, ao lume, de volta das castanhas, lá para os Santos, já dará a prova.
A ver vamos.

Armando Sena

Morneiro de capões Trás os Montes


Em tempos idos, depois da cegada fazia-se a roda onde os molhos de centeio acabavam de secar.
Depois eram transferidos para morneiros onde aguardavam a acarreja para fazer a meda na eira, antes da malhada.
Pois bem, morneiros de capões ainda hoje existem, como se confirma na foto. Depois de estagiarem no morneiro, os capões de vides serão levados para casa e o vieiro ficará assim desobstruído para ser lavrado.

P.S. Alguns destes termos são provenientes de http://lamadeiras.blogspot.com/2010/07/lista-de-termos-abada-regaco-cheio.html

Contribuidore Armando Sena

A britadeira Trás os Montes


É isto que resta, entre o mato queimado, do que em tempos foi uma infra-estrutura muito relevante na conversão da EN 103 numa estrada asfaltada e praticamente igual à que era, até há cerca de dez anos atrás.
A britadeira, como carinhosamente é conhecida em Pedome e que acabou por dar nome ao local, foi importante até na fixação de pessoas em Pedome, vindas de outras localidades, com o propósito de trabalhar na modernização da estrada nacional. Algumas acabaram por ficar, enriquecendo também Pedome com a sua presença.

Saudoso percurso da 63 Trás os Montes



A camioneta nº 63 da Auto Viação do Tâmega está intimamente ligada à história de Pedome, pelo menos dos últimos 70 anos. No site da própria empresa pode-se ler o seguinte:

Quando em 19 de Maio de 1944 , o Sr. Teodoro de Freitas e o Sr. Alberto Augusto Antas, ambos já falecidos, subscreveram a escritura publica desta empresa no Cartório Notarial de Chaves, por certo que não imaginavam a importância que a mesma iria ter para a região. Consta nessa escritura que o Capital social era de 498.79 Euros, repartido em proporções iguais pelos fundadores. Iniciaram a actividade com um camião de carga, passando mais tarde á compra de um autocarro da marca Volvo, matricula SP-10-87, de 31 lugares, cujo o custo foi de 99.75 Euros, e destinado a fazer a carreira de serviço publico entre Chaves e Vinhais, constituindo assim a primeira concessão oficial. Como nota curiosa há a salientar que o sócio fundador Teodoro de Freitas, manteve-se á frente da empresa até ao ano de 1976. Foi o seu dinamismo e vontade férrea que catapultou a empresa para o lugar de destaque que a mesma já tinha quando por motivos de força maior cedeu a sua posição.

À parte algum lapso que haja quanto à moeda em causa, retém-se uma coisa relevante: A Auto Viação de Tâmega teve como origem, no que ao transporte de passageiros diz respeito, a carreira Chaves - Vinhais. Fiquei agora a saber que tal carreira era feita com um veículo Volvo. No meu tempo, tal era assegurado pela “fabulosa” Leyland nº 63. Aos comandos o Sr. Norberto, coadjuvado pelo Sr. Santarém, que mais tarde tomaria ele próprio os comandos em “Agente Único”.

Esta carreira, num percurso tão diverso, entre Chaves e Vinhais, está cheio de peripécias. Algumas delas, haverá aqui tempo para as contar, outras, se alguém as quiser partilhar, será um bom exercício, senão, ficarão para o esquecimento ou para a lembrança de quem as viveu.

Uma das coisas caricatas nesta carreira era o horário que parecia estar feito para não servir ninguém. Passava em Pedome às 8.20 horas da manhã, às 14.15 horas da tarde e às 20.15 horas da noite, isto no sentido Vinhais-Chaves, incompatível portanto com os horários escolares. Esta artimanha administrativa, no tempo em que os livros de reclamação não estavam à mão de semear, levava-nos a organizarmo-nos em caravanas de transporte colectivo privado, de modo a apanhar às 6 horas da madrugada, a camioneta na Bolideira, outra aberração de horário, que nos punha em Chaves às 7 horas da manhã, quando as escolas abriam às 8.30 horas. Hoje seria um método apelidado de tortura e justificação para todo o insucesso escolar, esperar mais de uma hora ao relento, no tempo das geadas e do impiedoso nevoeiro flaviense.
Continua…

Nota: A imagem não é da 63, não consegui uma foto da lendária camioneta, será provavelmente o chasso da 64, uma UTIC Leyland miserável que conseguiu juntar o fim de duas marcas.


Armando Sena

A poda Trás os Montes



"Não há coisa mais bonita do que ir à missa e encontrá-la dita". Conhecem este provérbio? Pois aplica-se que nem uma luva ao que me aconteceu este fim-de-semana. Estava dedicado em exclusivo à poda, previa-se complicado e com muitas dúvidas se terminaria o trabalho só de uma vez. Mas, eis que uma alma caridosa nos tinha uma surpresa preparada e, a poda estava feita. Tem destas coisas boas a vida. Um muito obrigado ao Fernando e, bem haja.

Posto de telefone publico Trás os Montes


Lembro-me bem do que era o telefone público em Pedome e do serviço para todos, que de forma gratuíta e sempre disponível, era praticado.
Em Pedome, durante muitos anos só havia um telefone, que era público. Mas, por necessidade, o telefone era usado não só para fazer chamadas como para receber e, nestes casos, havia a necessidade de ir a casa da pessoa para quem tinham ligado, avisá-la que havia uma chamada para ela. E isto a qualquer hora do dia. Porque eu também fui um dos que abusei e reconheço aqui um grande serviço cívico e um forte altruísmo, aqui fica a minha palavra de reconhecimento e agradecimento ao posto de telefone publico de Pedome, que é o mesmo que dizer, à Ana e ao Zé.

Velha Nora Trás os Montes

Diz-se que foram os árabes que as trouxeram para a península ibérica, acabando por chegar a Pedome, como se pode comprovar. Não me lembro de ver nenhuma a funcionar, embora velho, já não sou desse tempo. Esta figura ainda imponente lembrando tempos idos, quando deveria executar na perfeição a sua função de dar vida às plantações.

Moínhos Trás os Montes


Voltando aos moínhos de Pedome, este é talvez o mais emblemático, o moínho do Almeida. Não sei se por estar mesmo no local que identificamos com Lamadeiras, ao lado da ponte velha, encostado a umas fragas belíssimas onde se disfrutam ainda hoje belos tempos de lazer e por onde todos nós já fomos felizes.
E, sobre ele não restam dúvidas, das comidas de Pedome, podemos gostar ou não, mas do moínho do Almeida e de Lamadeiras, não é aceitável que alguém não goste.

Moínhos Trás os Montes


Uma das curiosidades dos moínhos de Pedome é que não há dois iguais, são todos diferentes. Este, por exemplo ou melhor, estes, pois na verdade são dois. Um, o mais pequeno e menos nobre, situa-se a uma cota superior, aproveitando uma derrega que vem de um ponto mais elevado do ribeiro, mas que se encontra em linha com o outro moínho. Aparentemente, a mesma água era usada duas vezes, sendo partilhada por ambos os moínhos. Parece confuso? Claro que é, só dgnificando o saber de quem os pensou e construiu. Ah valentes.
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