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Um reino sem monarca - Trás-os-Montes


Existe algum reino cujo monarca não tenha sido designado? Que as leis que o regem provenham apenas da harmonia, do sentimento, da vontade de viver em paz? Cujas fronteiras nunca foram impostas e os seus limites chegam onde nos leva a saudade?
Um reino onde um dia aportámos, do qual o cordão umbilical nunca cortámos. Mas, desditoso o desígnio desse fado, mal paridas essas pedras que te formam e que não há meio de por lá fixarem os que te amam.
Crispou-se então a lealdade, esfumou-se a sensação de pertença, em desilusão encalhou o orgulho da origem?
Não, Não, Não.
Por mais cintilantes as avenidas onde hoje perdes os teus passos, por mais belas que sejam as torres que homens criaram, as pontes, estátuas e arranha-céus, sempre é a tua luz que nos atrai, as tuas cores, cheiros e matizes, a sensação de que aí fomos felizes.
Um dia, que a certeza não é um dom humano, voltaremos, colheremos amoras na beira do caminho que coberto de sombras frescas nos levará ao ribeiro. Aí sentados, invadidos pela brisa que de longe nos trás cheiros a feno e a saudade, beberemos sofregamente os momentos que nos restam, até ao por do sol. Um sol que só em ti tem essas cores, o vermelho ardente do fim de uma tarde de verão.


Então, expurgados da angústia da distância, saciados com a leveza que só um moinho ermo, onde lendas de bruxas e feitiços tinham origem, pode proporcionar, refeitos, reconstruídos, reabilitados e reconhecidos, retomaremos esses trilhos que de novo serão percorridos por aqueles que por ventura tiveram que te deixar.

Armando Sena

A Ocidente Trás os Montes


O nosso Reino, encravado entre montes e vales, poderá, numa divisão livre e pessoal, estar localizado entre o Tâmega e o Rabaçal.

Seja qual for a divisão ou os limites que se imponham, não faltarão belezas naturais e riqueza de espírito por ele dispersos. Tomando como referência o local da foto, a Bolideira, virado a ocidente, para o Larouco, tem-se a perceção do paraíso aqui encerrado. Este é, seguramente, o reino da liberdade, um reino sem monarca, propriedade das suas gentes e de portas abertas ao mundo, ao bom estilo transmontano.

Armando Sena

Nadir Afonso Trás os Montes

Nadir Afonso era uma pessoa simpática, carismática, com quem me habituei a cruzar nas ruas de Chaves. Era para além disso, um grande artista, um dos maiores de Trás-os-Montes e, com enorme orgulho próprio, nunca deixou de ter aquele toque transmontano que tanto nos orgulha.
Hoje, morreu um grande homem. A ele, a minha homenagem.

Armando Sena


Nadir Afonso nasceu em Chaves, em 1920, e estudou arquitetura na Escola de Belas-Artes do Porto. Partiu para Paris em 1946 para estudar Pintura. Por intermédio de Portinari obteve uma bolsa de estudo do governo francês. Colaborou com Le Corbusier. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro, onde trabalhou com Oscar Niemeyer. Trabalhou como arquiteto até 1965 ao mesmo tempo que desenvolvia trabalho como pintor abstracionista.
Tinha completado 93 anos no dia 4 de dezembro.
Foi distinguido em 1967 com o Prémio Nacional de Pintura, em 1969 com o Prémio Amadeo de Sousa-Cardoso e ainda condecorado com o grau de Oficial (1984) e de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2010).
A última grande exposição do pintor realizou-se no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, e também no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em 2010, e também foi alvo de uma retrospetiva em 1970, na Fundação Calouste Gulbenkian.
O Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa dedicaram grandes exposições ao pintor, em 2010.

Armando Sena   Fonte: Público

O MRP Trás os Montes


Agora que tempos um movimento auto-intitulado de resistência pedomense, esperemos que tenha como resultado, para além da resistência, a afirmação de Pedome e dos seus descendentes pelos quatro cantos do mundo, o qual, sendo redondo, libertará ainda muito espaço por preencher.
Desejando a todos um bom fim de semana e um divertido Carnaval, deixo-vos com esta imagem bucólica de Pedome.

Armando Sena

Armando Sena Colheita de Incertezas


E, eis que um dia, surge a oportunidade de revelar a certeza que é a edição de um segundo livro.
Menos de um ano e meio depois de Na Demanda do Ideal, surge agora, Colheita de Incertezas.
A apresentação, a revelação da colheita, será a 17 de Novembro de 2012.
Estão todos convidados. Gostava muito de vos ter por perto.

Armando Sena

Tiago Patrício Trás os Montes




Este livro conta histórias de infância. No fundo, histórias parecidas com as nossas, os que crescemos em aldeias transmontanas.
De uma forma simples e singularmente bela, é uma leitura que nos transporta para os anos que moldaram as nossas vidas.
Pela mão do Tiago Patrício, com o acompanhamento de todos os que foram os nossos amigos de infância, somos liderados pelo Teodoro nas aventuras que Trás-os-Montes nos proporcionou.

http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=53495

Armando Sena

Autor Armando Sena



No que acabou por se tornar uma homenagem a Pedome, apesar de não se ter esgotado nisso, foi feita a apresentação do livro "Na demanda do ideal" no passado sábado, com brilhantes intervenções de alguns dos participantes, dos quais destaco, como ponto alto, a do Álvaro Madeira.
Afinal, Pedome continua.

Manuel António Araújo Trás os Montes

Fica aqui uma entrevista ao meu professor de francês do 9º ano. De louvar a obra, o homem e já agora, o professor. É de facto duro ser transmontano.
Manuel António Araújo Vinhais

«Sou triste por natureza e escrevo para me equilibrar»

É transmontano puro, mas, se não fosse, não lamentava. O professor e escritor Manuel António Araújo acredita que viver em Trás-os-Montes se paga muito caro em termos de reconhecimento e projecção. 
À parte disso, em entrevista ao Transmontano de Gema, Manuel Araújo revelou que escreve para se equilibrar e garantiu que não é antipático e arrogante como muita gente o julga. É tímido. Só isso. No seu último romance, A Aldeia das Mulheres, diz que a personagem do padre Julião tem coisas dele.

Semanário TRANSMONTANO (ST): considera-se um transmontano de gema?
Manuel António Araújo (MAA): Sim. Eu sou natural de uma aldeia a 40 quilómetros de Chaves, que é Rebordelo, no concelho de Vinhais, mas estou em Chaves praticamente desde sempre.
ST: O facto de estar “atrás dos montes” tem impedido a sua projecção enquanto escritor?
MAA: A razão, para mim decisiva, de as pessoas não se projectarem e não serem reconhecidas é viverem aqui. Há vários exemplos de pessoas que tiveram de sair daqui para serem conhecidas. Viver em Trás-os-Montes custa muito em termos de projecção. Paga-se muito a interioridade.
ST: Sente isso na pele:
MAA: Eu sou um exemplo paradigmático. Escrevi uma obra que se chama a Emancipação da Literatura, que ganhou um prémio da Associação Portuguesa de Escritores, que é um prémio de prestígio, e, apesar disso, ninguém ma publicava se a Câmara não a patrocinasse. Na capa do livro vinha a indicação de que ganhei o prémio, a televisão publicitou-o. Na RTP, num programa chamado Câmara Clara, falaram que ganhei o prémio e ninguém me publicava a obra. Só a publicaram depois de a Câmara patrocinar. E depois foi publicada e ninguém a conhece porque estou em Trás-os-Montes. Se estivesse em Lisboa, o livro era claramente publicitado, andava nos corredores da literatura e era conhecido. Até acho que já esgotou e ninguém sabe dele.
ST: As suas raízes reflectem-se nas suas obras? A aldeia de Pousos de que fala no seu último romance é uma aldeia transmontana?
MAA: Não é uma aldeia específica, é formada por pedaços de aldeias onde vivi, Rebordelo e Lebução, identifica-se com ambas. Em Pousos há uma praça que existia em Lebução.
ST: Porquê o título: Aldeia das Mulheres?
MAA: Porque só vivem lá mulheres. Eu acho que as mulheres são muito mais interessantes e misteriosas do que os homens. À parte o aspecto sexual, a mulher é muito mais bonita. Eu sou capaz de ver um rosto masculino e achar que é bonito, mas o rosto feminino é muito mais bonito. A beleza da mulher tem muito mais mistério.
ST: Há personagens reais no livro?
MAA: Há uma personagem, que é a Rute, e que é uma personagem um bocado esotérica, que equivale a uma pessoa que havia lá na aldeia e que me impressionou quando era pequeno, também era misteriosa e tinha laivos de bruxaria. Tudo o resto é ficção, mas não é uma ficção pura. Há coisas de mim no padre Julião e há coisas de outros padres, e que resultaram de coisas que eu observei no seminário. Há uma mistura e uma construção.
ST: Seminário? Alguma vez quis ser padre?
MAA: Eu acho que devia ser um bom padre, talvez um bocado heterodoxo. Eu andei no seminário em Arouca. Estive lá dois anos, até aos 11. Lembro-me que, quando o meu pai me foi lá buscar para não regressar mais, eu jurei que ia voltar, depois não voltei. Mas foram os anos mais felizes da minha vida.
ST: Já escrevia nessa altura?
MAA: Não. Foi só depois, lá para os 13/14 anos que comecei a escrever pequenos poemas. Comecei um romance para aí aos 14 anos, mas escrevi para aí umas dez páginas…
ST: Está na gaveta?
MAA: Desapareceu.
ST: Quando pensou em ser escritor a sério?
MAA: Isso de ser escritor a sério em Portugal é uma coisa difícil. Fui escrevendo. Uma das razões porque escrevo é porque sou triste. Sou uma pessoa naturalmente triste e, portanto, as pessoas tristes têm uma incompatibilidade social. Não saem muito, não têm uma relação com a sociedade muito boa. Geralmente são pessoas tímidas. A escrita é um equilíbrio. Escrevo para me equilibrar.
ST: O facto de ser fechado e tímido, às vezes, é interpretado como arrogância, antipatia, mas isso é só fachada ou não?
MAA: Sim, é só fachada. Isso não é verdade.
ST: Como vê o fenómeno da escrita em Portugal e na região, na medida em que há cada vez mais pessoas a escrever?
MAA: Eu acho bem que as pessoas escrevam. A escrita é um bálsamo, é uma espécie de refúgio. Agora depende se se escreve por necessidade, porque, às vezes, há pessoas que escrevem por vaidade, mas essa é uma vaidade estéril, porque quem escreve por vaidade não tem talento e nunca vai…
ST: O que é que acha de haver pessoas conhecidas de outras áreas que escrevem e que acabam por ter sucesso?
MAA: A literatura não é espectáculo. A literatura não tem que ver com dinheiro, depois até pode ter, mas acho até que é anti-comercial. Acho que agora isso já não acontece, mas há algum tempo víamos livros nos centros comerciais ao lado das batatas. Acho que a literatura não tem nada a ver com isso.
ST: É professor… escrevem bem os seus alunos?
MAA: Tenho alguns que escrevem, mas com o tempo, o nível da escrita e da leitura está a degradar-se muito.
ST: Incentiva-os a ler?
MAA: Sim, de uma forma simples. Leio para eles. Sou professor de português e tenho obrigação de ler bem, e leio, e é uma forma de estarem atentos à leitura.
ST: Costuma dizer-se que quem não lê não sabe escrever…
MAA: É um bocado assim. José Saramago antes de escrever leu imenso. É preciso ler, embora também não seja só por se ler muito que se escreve bem. Tem de haver talento.
Há alguns escritores, julgo que com alguma falsa humildade, que dizem que escrever é só trabalho, mas para ser um bom escritor tem de se ter talento, embora também tenha de haver trabalho.
ST: Há algum escritor em que se reveja?
MAA: Gosto de Gabriel Garcia Marques, gosto sobretudo da sua literatura fantástica.
ST: Este é o seu melhor romance?
MAA: Dizem que é, não sei se é. Vamos ver! Há pessoas que gostam muito. Tive uma amiga que me mandou uma mensagem às três da manhã a dizer que era fantástico.
ST: O que gosta de fazer?
MAA: Gosto de ler, de escrever, se bem que eu não escrevo para me divertir, escrevo porque preciso, como há pessoas que precisam de ir à discoteca. Gosto de ver futebol, o Benfica, e vejo sempre, gosto de ouvir música. E acho que não gosto de mais nada. Ah, gosto de conduzir com chuva.
ST: Escreve com regularidade?
MAA: Quando estou a escrever um livro sim. O meu problema é que sou um bocado preguiçoso. Uma vez, o Lobo Antunes falou disso. Quando escrevemos estamos para aí, eu estou, uma hora, uma hora e meia, e aquilo que escrevo não é muito bom, risco, rasgo. Estamos ali, levantamo-nos, voltamo a sentar-nos e quando as coisas estão a ser boas, estou cansado. Muitas vezes, não tenho coragem de continuar e vou-me deitar. Quando chego ao momento em que a produção está a ser boa, vou--me embora. É por isso que eu acho que nunca chegarei a ser um bom escritor, porque eu tenho esse defeito. O Lobo Antunes não tem. Ele diz que quando começa a ser bom, ele vai por ali fora, mas eu não, canso-me e muitas vezes vou-me deitar. Estou ali a aguentar até a inspiração vir e quando ela chega vou-me embora. Eu rejeito muita coisa na vida e na literatura acontece-me um bocado isso.
ST: No prato, é transmontano?
MAA: Não como muito, mas gosto de comida transmontana. Gosto muito de uma comida que só como na casa do meu pai, que não há nos restaurantes, feijões e couves com orelha de porco.
ST: Faz questão de realçar que é transmontano. Sente orgulho nisso?
MAA: Não tenho orgulho absolutamente nenhum. Se fosse de outra região não lamentava nada. É uma coisa que para mim é neutra.
Há coisas boas que eu não tenho por estar em Trás-os-Montes, como o mar. Há gente com muito valor e isso prova-se, não é isso que está em causa. Perguntar-me-á porque não se vai embora? Porque não posso, trabalho aqui.
ST: Acha que as pessoas, no resto do país, ainda têm a ideia de que os transmontanos sãos uns coitadinhos?
MAA: Acho que a imagem não é muito positiva. Há pessoas que pensam que Chaves fica em Espanha, mas, quando cá vêm, acham isto muito bonito, e depois vão-se embora, e nós ficamos. E Chaves, de facto, é uma cidade bonita e seguramente com muito potencial para se desenvolver, mas gostava que Chaves fosse a cidade que era antes do 25 de Abril. As pessoas vão achar isto reaccionário, mas não é.
ST: O que é que faz falta a Chaves?
MAA: Devia ter uma universidade. Devia ter ensino superior com qualidade, não estou a dizer que o que há não tem, mas gostava de ver aqui outros cursos. Houve um momento para isso, mas acho que se perdeu quando se deixou, em termos de ensino superior, ir tudo para Vila Real. Isso marcou Chaves de forma irremediável.
ST:Como define um transmontano de gema?
MAA: Em primeiro de tudo, pela pronúncia. Depois pela franqueza. Os transmontanos são, ao mesmo tempo, francos e desconfiados. Isto pode parecer paradoxal, mas não é. São desconfiados à partida, mas quando conhecem são muito francos.

Literatura Trás os Montes


De todos os comentários ou posts deste blog, este é sem dúvida o de maior qualidade literária. Assim, é de elementar justiça que figure na página principal. Ao autor de nome "Lágrimas", o meu agradecimento. O texto em si, incorpora todo o espírito que levou à criação deste blog. Mais palavras para quê? Leiam e deliciem-se, que pequenas terras também dão à luz grandes criadores.
"Velho castanheiro da cruz, mirone priveligiado de tudo e todos, carcomido pelo tempo. Viste nascer Pedome, estás a vê-la definhar e hás-de vê-la perecer. A todos viste nascer e...partir. Tu, do alto da tua imponência a tudo vais resistindo, neves, incêndios ventos, maleitas, temporais de sol e chuva. E resistes. Sofres, sinto-o, impotente. No teu descomunal tronco guardas sibilamente histórias que não revelas e aguardas por muitas outras que sabes, morrerão contigo. Vais abanando e sofrendo quando vez partir alguém que sabes não mais ser substituido e o teu reino, outrora orgulhosamente numeroso, vai definhando, perdendo-se, acabando. Tu resistes, não por vontade, há muito que queres partir, também, mas não podes, fiel guardião. Foi em ti que o tio Abilio depositou as suas valiosas descobertas que tu guardas juntamente com as outras que por muitos anos observas-te: discussões, abraços, lágrimas, infidelidades, alegrias e sorrisos. Fiel dipositário do sonho de um povo e reles coscuvilheiro de actos menos nobres. Mas sempre silencioso e clemente, compreensivo bastante para saberes que também disso se fazem as memórias de uma aldeia. Quando partires saberei que fos-te o último."
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